segunda-feira, 31 de agosto de 2009
Até quando esperar?
Para além da discussão do mérito de tal ranqueamento, me pergunto: Como é possível entender a dissonância entre a melhora na classificação e os sérios embates políticos internos, com greves cíclicas, sendo que última terminou a pouco mais de 1 mês e meio? Na certa é muita vadiagem, pura baderna política ou maconheira, responderão os jovens-só-me-importo-comigo-de-bengalas de plantão. Mas a verdade que vejo passa bem longe dessa ótica. Partindo do pressuposto que legitima o ranqueamento, não existe um antagonismo entre as partes, mas sim, uma pergunta inquietante que salta aos olhos : Se a Usp consegue melhorar sua classificação e se manter como a melhor na américa latina, apesar de todos os seus problemas internos, em que pé estaria se houvesse de fato investimentos estatais pesados e uma boa política para a melhorar da educação superior? Veja: existem várias USPs. A que recebe dinheiro privado e perde dinheiro público através das fundações, mas que garante o mínimo de infra-estrutura adequada ao ensino. Enquanto há outra que só pouco recebe dinheiro público mas que é incapaz de manter salas de aula sem infiltrações, bem ventiladas e muito menos com acesso a equipamentos multimídia. Quem conhece a Usp sabe que me refiro aqui a FEA e a FFLCH, que utilizo com casos extremos da notória bagunça administrativa que é a Universidade de São Paulo.
É necessário que se melhore as condições de ajuda estudantil, muito criticada por quem não precisa delas, mas que são vitais para quem as utiliza. Além disso, antes que todas as faculdades da Usp corram choramingando por alguns trocados a iniciativa privada, para conseguirem garantir o bom rendimento de seus cursos, é necessário que se aumente o repasse do ICMS, a anos congelado, para a universidade pública, além de se rever a distribuição interna deste. Outro ponto importante diz respeito aos funcionários e professores da universidade, que precisam ter seu trabalho melhor remunerado e valorizado, com reais perspectivas de crescimento profissional, caso contrário somente se encontrará, a exceção de alguns mártires, entre os concursados, professores e servidores desmotivados, e entre os terceirizados e temporários, o medo de ir pra rua, ambas qualidades antagônicas ao melhor rendimento do ambiente acadêmico.
Assim, encarno o neo-hippie sonhador e requestiono seriamente: se estamos assim agora com uma escassez gritante de recursos para a educação superior – e na educação geral como um todo - onde estaríamos se nos puséssemos a valorizar o conhecimento como meta máxima a ser melhorada?
domingo, 30 de agosto de 2009
2º motivo da rosa
Por mais que te celebre, não me escutas,
embora em forma e nácar se assemelhes
à concha soante, à musical orelha
que grava o mar nas íntimas volutas.
Deponho-te em cristal, defronte a espelhos,
sem eco de cisternas ou de grutas...
Ausências e cegueiras absolutas
ofereces às vespas e às abelhas.
E a quem te adora, ó surda e silenciosa,
e cega e bela e interminável rosa
que em tempo e aroma e verso te transmutas!
Sem terra nem estrelas brilhas, presa
a meu sonho, insensível à beleza
que és e não sabes, porque não me escutas...
"Eu não devia te dizer mas essa lua, mas esse conhaque, botam a gente comovido como o diabo" (Poema das sete faces)
sábado, 29 de agosto de 2009
Béradêro
Rodando no gravador
Uma moça cosendo roupa
Com a linha do Equador
E a voz da Santa dizendo
O que é que eu tô fazendo
Cá em cima desse andor
A tinta pinta o asfalto
Enfeita a alma motorista
É a cor na cor da cidade
Batom no lábio nortista
O olhar vê tons tão sudestes
E o beijo que vós me nordestes
Arranha céu da boca paulista
Cadeiras elétricas da baiana
Sentença que o turista cheire
E os sem amor os sem teto
Os sem paixão sem alqueire
No peito dos sem peito uma seta
E a cigana analfabeta
Lendo a mão de Paulo Freire
A contenteza do triste
Tristezura do contente
Vozes de faca cortando
Como o riso da serpente
São sons de sins, não contudo
Pé quebrado verso mudo
Grito no hospital da gente
sexta-feira, 28 de agosto de 2009
Lei de Anistia
Quanto a mim penso o seguinte: já é mais que a hora desse país reabrir os casos de tortura e passar, não só na esfera simbólica, mas na criminal, a julgar os ex-agentes e ex-comandantes que cometeram inescrupolosos crimes. Por mais que a lei de anistia tenha sido importante para a redemocratização do país, ela jamais pode ser vista como imutável e deveria ser revista. Não considerar isso é legitimar a própria ditadura, ao passo em que se continua a julgar como criminosos, anistiados, as pessoas inocentes e vitimas dos anos de chumbo. Se por um lado temos agentes e comandantes que agiam no interesse do governo subversivo, de outro temos guerrilheiros e grupos armados que lutavam para derrubar o regime de exceção, mas em meio a tudo isso encontram-se também inúmeros artistas que tiveram que deixar país por sua arte e suas ideias, outros tantas inúmeras pessoas presas pelo envolvimento com o movimento estudantil, e mais outras tantas pessoas que nada tinham a ver com política mas que foram presas e torturadas, por erros da inteligência das forças armadas. O que dizer de uma lei que compara como igualmente criminosos Chico Buarque de Holanda e Carlos Alberto Ustra, Caetano Veloso e Gilberto Gil, e Sérgio Paranhos Fleury, entre outros igualmente anistiados?
Reclama-se ainda das indenizações hoje concedidas a quem foi prejudicado pelo regime militar. É possível que exista um certo exagero nessas ações, entretanto, é mais do que legítimo reparar, financeiramente, quem teve sua vida destruída durante àquele período. Pessoas que tiveram que deixar o país e suas profissões para não serem torturadas, famílias cujos entes queridos foram assassinados pelos agentes do estado, e tantas e tantas outras que foram brutalizadas nos porões da ditadura, e que ainda hoje sofrem pelas sequelas físicas (infertilidade, paralisia, defeitos físicos, ...) e psicológicas resultantes de seus interrogatórios.
Já é mais que a hora desse país passar a julgar, a exemplo da justiça argentina, os crimes dos ex-agentes, comandantes e governadores do governo que subverteu nossa democracia em 1964 e instaurou um regime de exceção. Porém , mais do que isso é um imperativo que todos os remanescentes arquivos da ditadura sejam desclassificados como confidenciais e sejam abertos para conhecimento público. É um absurdo que continuem lacrados, mesmo após dois presidentes que foram perseguidos pelo regime militar (FHC e Lula). Sem eles a história do país fica comprometida e a consolidação de nossa democracia, fragilizada.
quinta-feira, 27 de agosto de 2009
Tristeza
quarta-feira, 26 de agosto de 2009
O Solitário
Nietzsche
Um fio de esperança
Um salve ao poder judiciário de nossos hermanos do sul. Por decisão da suprema corte argentina desde de ontem o porte de pequenas quantidades de maconha por usuários deixa de ser crime no país. A corte considerou como inconstitucional a criminalização do consumo da maconha por maiores de idade que o façam em local privado. Entretanto, o comércio e o uso em locais públicos continua sendo crime, mas já é um grande passo no debate sobre as drogas no país.
Não poderia deixar passar batido tal notícia. Em oposição direta ao poder judiciário argentino, enquanto lá se descriminaliza o uso, o nosso vem sistematicamente censurando - sim é a palavra mais do que certa para descrever isso - a realização da mundial "Marcha da Maconha" na maioria dos estados, pela suposição, fictícia, de apologia ao consumo da droga. Para nós resta ao menos um ex-presidente (FHC) que tem se proposto a discutir abertamente o tema em fóruns sul americanos.
Além disso, nessa mesma semana começou a ser vinculado em algumas redes de televisão - as que aceitaram - do estado estadunidense da Califórnia uma propaganda em prol da completa legalização da maconha. Lá, onde o uso terapêutico é legal a anos, existe um ostensivo movimento que enxerga na cannabis a solução para os problemas econômicos do estado.
E não é para menos: a cannabis sativa tem diversos fins com utilidade industrial. A fibra da planta é muito resistente e foi amplamente utilizada até o início do século passado quando passou a ser perseguida. Para-quedas, cordas de navio, e diversos outros produtos derivavam da cannabis, conhecida também como cânhamo. Pode-se também fabricar papel e diga-se de passagem com até 1/6 da área que normalmente se utiliza nos processos de hoje em dia.
O óleo da planta é igualmente bom e de também vasta aplicação industrial - algo como o óleo da mamona. Há seus claros fins recreativos, medicinais e ornamentais - sim é uma bela e exótica planta. Enfim, a legalização da produção e comercialização da cannabis traria um aumento de empregos e de receita gerada pelos impostos, além de tornar disponível o dinheiro atual que é investido em seu combate.
Quanto a mim, concordo e também defendo esta tese, por mais que me contente por hora em descriminalizar seu uso.
Este é um tema delicado e conflituoso e merece outros posts mais específicos. Escreverei mais.
Pequeno Tesouro
terça-feira, 25 de agosto de 2009
Lei antifumo
Abertura
E assim abro este blog como grandioso poema "Ode Triunfal", de Álvaro de Campos (Fernando Pessoa):