"A condição humana" - René Magritte
Precisei decorar para minha aula de teatro um poema do Alberto Caeiro (Fernando Pessoa). Ele é um poeta materialista que despreza o pensamento filosófico e metafísico
("pensar é estar doente dos olhos"). Escolhi este abaixo, o que me levou a pensar: Seria tangível o que ele propõe e o que o quadro do Magritte parece apontar (no quadro se vê parte do mundo exterior além do quadro)? Existe a coisa em si para além do olhar humano? Existe a apreensão do mundo sem representação? Acredito que não. O real é um pacto entre os olhares...
"Poemas Inconjuntos" (1913-1915)
Não basta abrir a janela
Para ver os campos e o rio.
Não é bastante não ser cego
Para ver as árvores e as flores.
É preciso também não ter filosofia nenhuma.
Com filosofia não há árvores: há ideias apenas.
Há só cada um de nós, como uma cave.
Há só uma janela fechada, e todo o mundo lá fora;
E um sonho do que se poderia ver se a janela se abrisse,
Que nunca é o que se vê quando se abre a janela.
O mundo só existe para o sujeito - que conhece sem nunca ser conhecido. Mesmo nossos pensamentos, na medida em que são percebidos por nós, são objetos - ainda que objetos parciais. O sujeito é o sustentáculo do mundo perceptível, do mundo como representação. Mas há também uma outra verdade sombria, complementar: o mundo é vontade. A vontade silenciosa que se produz no interior das coisas, que aglutina as moléculas, que é cega, fria, doida.
ResponderExcluirA coisa-em-si é uma fantasmagoria da filosofia que finalmente, séculos depois, começamos a superar.